90 ANOS DA MAIS JOVEM FREGUESIA DO MUNICÍPIO DE COIMBRA

02-FEV-2024

90 ANOS DA MAIS JOVEM FREGUESIA DO MUNICÍPIO DE COIMBRA

 TORRES DO MONDEGO

90 ANOS DA MAIS JOVEM FREGUESIA DO MUNICÍPIO DE COIMBRA

01/02/1934-01/02/2024


O documento fundacional

A Freguesia de Torres do Mondego comemora hoje 90 anos de existência no âmbito do Município de Coimbra e no quadro da administração civil do território português.

O documento fundacional data de 01/02/1934 e refere-se ao Decreto-Lei n.º 23:534 do Ministério do Interior - inserto no Diário do Governo, I.ª série, nº 26, p. 162 – pelo qual se criou no concelho de Coimbra a freguesia das Torres do Mondego, com pareceres favoráveis da Junta de Freguesia dos Olivais, de 05/11/1931, e da Câmara Municipal de Coimbra, de 28/12/1933.

A nova freguesia teve como base para a sua criação e demarcação os antigos limites do Curato das Torres, incluindo assim, as povoações da Cova do Ouro e do Dianteiro, de forma a fazer coincidir os limites da freguesia civil com a administração eclesiástica. O conteúdo do diploma é elucidativo do alcance da medida legislativa, pelo qual se criou a mais jovem das freguesias do Município de Coimbra:

«Tendo em vista a comodidade dos povos e as informações da autoridade superior do distrito;

Usando da faculdade conferida pela 2.ª parte do n.º 2 do art.º 108.º da Constituição, o Govêrno decreta e eu promulgo, para valer como lei, o seguinte:

Artigo 1.º É criada no concelho de Coimbra a freguesia das Tôrres do Mondego

Art.º 2.º A nova freguesia ficará constituída pelas povoações de Tôrres do Mondego, onde terá a sede, Carvalhosas, Casal da Misarela, Misarela, Dianteiro e Cova do Ouro, com os limites seguintes:

A nascente a freguesia de Lorvão;

A norte as freguesias de S. Paulo de Frades e Santo António dos Olivais, pela estrada do Dianteiro ao Picôto e por uma linha do Picôto à Portela da Cobiça, seguindo, em parte, o cume do monte;

A poente a freguesia de Santo António dos Olivais, pelo caminho da Portela da Cobiça à estrada de Penacova, caminho do Vale da Azenha;

A sul pela freguesia do Ceira.

Publique-se e cumpra-se como nêle se contém.

Paços do Govêrno da República, 1 de Fevereiro de 1934. ANTÓNIO ÓSCAR DE FRAGOSO CARMONA – António de Oliveira Salazar – Antonino Raúl da Mata Gomes Pereira – Manuel Rodrigues Júnior – Luiz Alberto de Oliveira – Aníbal de Mesquita Guimarães – José Caeiro da Mata – Duarte Pacheco – Armindo Rodrigues Monteiro – Alexandre Alberto de Sousa Pinto – Sebastião Garcia Ramires – Leovigildo Queimado Franco de Sousa».


Os tempos da pré-fundação

A freguesia de Torres do Mondego ficou, a partir de 1934, autonomizada da Freguesia dos Olivais, à qual estava ligada desde a aprovação do plano de redução das freguesias/paróquias da cidade, que remontava a 1854, embora reduzida ao Curato das Torres.

De facto, a 25/11/1854 publicou-se no Diário do Governo n.º 278 a portaria de 20/11/1854 reduzindo, por um lado, as nove paróquias/freguesias da cidade a quatro e, por outro criando duas novas freguesias nos subúrbios da cidade.

Na cidade ficaram existindo as freguesias da Sé Catedral, Sé Velha, Santa Cruz/Santa Justa e S. Bartolomeu, enquanto nos subúrbios se criaram as freguesias de Santa Clara e Santo António dos Olivais.

Era assim eliminada a freguesia de S. Pedro na qual se integrava o território da atual freguesia das Torres do Mondego desde tempos imemoriais, que foi absorvido pela nova freguesia de Santo António dos Olivais, como se afere da demarcação enunciada naquele diploma:

«Começa no sitio da Quinta dos Albergarias, segue pela azinhaga do Reitor da Sé, ladeira dos Loios, cazal da Fortuna, Quinta do Cidral, azinhaga do Cerieiro, Lagar do Calhabé, estrada do Fonseca, atè às Vendas de Arregaça, estrada da Portella, em direcção à azinhaga e porto fronteiro á Lapa dos Esteios, margem do Rio, Portella, Torres até ao Roxo, pelos limites actuaes das freguezias de S. Paulo e Penacova. Do Roxo pelo caminho mais curto até ao Promotor, estrada de Bemfins, Conchada, Mont’arroio, Montes Claros, Albergarias; tudo à esquerda, e ao norte do Mondego. – Comprehende mais ao sul d’este Rio, os logares da ribeira das Carvalhosas, Palheiros e Zorro, que fazem parte do curato das Torres. – Fica composta de 749 fogos».

Uma freguesia cujas origens se perdem no tempo. Sabe-se, contudo, que o lugar das Torres pertenceu a D. Paterno, primeiro bispo a seguir à reconquista definitiva de Coimbra. Em 1103 a Sé de Coimbra concedeu uma parte a Durão Escudeiro, por sua vida, para a cultivar. Misarela surge, também, em documentação medieval, relativa aos anos de 1088 e 1167.

Nestes longínquos tempos as Torres foram um ponto chave de defesa do território de Coimbra das investidas árabes, facto a que não será alheia a sua situação geográfica, em pleno maciço marginal, de características marcadamente serranas, favoráveis a fortificação com vigilância e controlo de pessoas e bens, que circulavam não só pela rede viária herdada da civilização romano-árabe mas também por via fluvial, nas características barcas serranas.

Embora as Torres nunca tenham sido concelho, uma das suas povoações deteve esse estatuto. Referimo-nos a Vale de Canas, que se manteve como pequeno concelho do termo coimbrão até às reformas liberais oitocentistas.


Turismo e Cultura

Dividida pelo vale do Mondego é uma freguesia de grande potencial cultural e turístico, convidando a percorrer os trilhos ribeirinhos ou a descobrir a Mata Nacional de Vale de Canas, que remonta ao séc. XVI, um dos pontos mais elevados da freguesia, com 292 metros, excelente local de observação do território a partir do seu miradouro.

A vida da comunidade esteve sempre muito ligada ao rio pelas lavadeiras, barqueiros e pescadores, encontrando, também, na olivicultura e árvores de fruto, como as cerejas das Carvalhosas, ou na pastorícia, fortes elos de ligação à terra.

No património religioso destaca-se a Igreja de S. Sebastião, reconstruida em 1969, com imponente campanário, bem como a ermida de Santo António, em Vale de Canas. A devoção ao maior santo português encontra-se, também, na arquitetura civil, nomeadamente, no Chafariz de Santo António.

O território tem, efetivamente, múltiplos pontos de interesse para descobrir, alguns deles muito originais, como os antigos vestígios da mina de chumbo de Barbadalhos, registada a 07/12/1882 pelo alemão Alberto Leuschner, então residente na cidade do Porto.

A Estrada Nacional 110, de traçado sinuoso é muito frequentada por peregrinos e turistas, com diversos miradouros, para o rio e serranio envolvente. O Chafariz das Torres, uma obra pública datada de 1895, apresenta-se não só como ponto de descanso, mas também de interesse artístico.

A praia fluvial dos Palheiros, em plena atividade durante a época de veraneio, é uma das mais importantes da região, permitindo a prática de vários desportos: caminhada, canoagem, vólei ou BTT.

Ainda visíveis nos terrenos marginais das linhas de água que desaguam no Mondego, caso da Ribeira da Misarela, temos os resquícios materiais do que ficou de uma intensa atividade de moagem.


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